É comum nos depararmos com situações em que nos julgamos donos da verdade e da ética e queremos impor isso de qualquer maneira. Na maioria das vezes isto representa apenas nosso ponto de vista e não o que realmente é. Muitas vezes este sentimento é potencializado pelos líderes que, na ânsia por audiência, acabam “forçando” uma visão mais adequada aos seus interesses.
Para ilustrar, vou citar um caso que aconteceu esta semana no jogo entre Palmeiras e Flamengo pelo campeonato brasileiro. No segundo tempo, quase no final do jogo, o jogador do Palmeiras Kleber protagonizou um lance polêmico ao, supostamente, desrespeitar o “Fair Play”. O lance começou quando o árbitro da partida, Leandro Vuaden, paralisou a partida para atendimento de um jogador do Flamengo que estava caído e, ao reiniciar o jogo com “bola ao chão”, o Kleber saiu jogando e chutou em direção ao gol adversário e gerou muita confusão e empurra-empurra. Porém o lance repercutiu na mídia de forma negativa para Kleber, já que os jogadores do Flamengo esperavam que ele devolvesse a bola.
Massacrado pelos jornalistas após o jogo, Kleber foi o Bad Boy da rodada. Até o procurador do STJD, Paulo Schimidt (não vou expressar minha opinião particular sobre este cidadão), solicitou as imagens do lance para denunciar Kleber em algum artigo anti-desportivo (mesmo o arbitro dizendo que a atitude de Kleber estava dentro das regras e que o Fair Play era somente um acordo entre jogadores).
Onde quero chegar é que, se analisarmos toda a partida, de uma forma neutra (o que é muito difícil se tratando de futebol), existiram vários lances de desrespeito ao Fair Play e ninguém comentou. Vou citar alguns lances, mas quero deixar claro que não é este o objetivo do post, apenas quero ilustrar que toda a situação, se analisada de uma forma isolada, pode enganar facilmente as nossas conclusões.
No primeiro tempo, o Kleber foi derrubado na área, o árbitro mandou o lance seguir, os jogadores do Flamengo saíram jogando e pedindo cartão amarelo ao jogador pela simulação de pênalti. A imprensa, após rever as imagens, constatou que realmente havia sido pênalti e o árbitro havia errado na sua avaliação. De acordo com o Fair Play, o jogador do Flamengo não deveria confessar que realmente fez o pênalti?
Em um lance de falta a favor do Flamengo, enquanto o árbitro arrumava a barreira, o Ronaldinho Gaucho cobrou antes do apito para surpreender o adversário e ou ganhar tempo, já que um empate era bom fora de casa contra o Palmeiras. De acordo com o Fair Play, o jogador não deveria seguir as regras e obedecer ao árbitro ao invés de atrasar a partida?
Muitos outros lances, que aconteceram neste e principalmente em outros jogos, lances famosos como “La mano de Dios” de Maradona na copa do mundo de 1986 contra a Inglaterra são classificados como positivos.

Vamos supor que no lance de falta do Ronaldinho Gaucho a bola tivesse entrado e o árbitro validado o gol, ou se o árbitro tivesse dado cartão amarelo ao Kleber por simulação de pênalti? A imprensa provavelmente classificaria como um lance de astúcia de Ronaldinho, malandragem do futebol brasileiro, afinal de contas, o mundo é dos espertos. Fico até imaginado a voz do Galvão Bueno narrando o jogo para agradar a audiência. “Vai Ronaldinho, isso garoto, nestas horas é que a experiência de um jogador do nível dele faz a diferença, um jogador decisivo, experiente”.
E se fosse contra o Brasil na final da copa do mundo e um jogador do time adversário fizesse um gol de mão e perdêssemos a copa?
Como lideres, não podemos deixar que isso aconteça na nossa empresa, muitas vezes valorizamos um colaborador pelo resultado obtido e ele se torna um exemplo. Porém não enxergamos como ele conseguiu chegar lá e se foi de uma maneira justa (Fair Play) com os demais colaboradores, fornecedores ou clientes. O perigo está em criar, na sua equipe, um clima de que “malandragem” é algo positivo e que os fins justificam os meios.